Malandros: alegria, sabedoria de rua e justiça espiritual na Umbanda

Por Equipe Horóscopo Virtual Publicado: Atualizado:

Os Malandros na Umbanda são uma linha de entidades que têm como regência principal os orixás da Umbanda Ogum e Oxalá. Um dos mais conhecidos entre eles é o próprio Zé Pilintra.

Eles são consagrados pela energia dos excluídos, ou seja, todos os que viveram à margem da sociedade e sofreram com a dor do preconceito.

Ainda que sejam conhecidos como “malandros” e apresentem características ligadas à diversão e à boemia, a atuação desses guias é muito importante.

Os Malandros são especialistas na cura: desfazem magias ruins, abrem os caminhos e também protegem quem os busca. Assim como as demais entidades, são seres de Luz que devem ser levados a sério.

Eles se incorporam durante as cerimônias da Umbanda e vêm à Terra para auxiliar quem precisa. Em geral, as pessoas que se identificam com esses guias são aquelas que sofrem ou já sofreram com as limitações impostas pela sociedade.

Ficou interessado em saber mais sobre os Malandros da Umbanda? Continue lendo o artigo a seguir e conheça as características dessa linha de entidades da Umbanda.

Quem são os Malandros na Umbanda?

Dentro da Umbanda, os Malandros são guias de trabalho, assim como os Caboclos, os Pretos-Velhos, os Baianos e tantos outros.

Eles são espíritos regidos por Ogum, o pai da Lei e da Ordem, e por Oxalá, o pai de Todos. Isso quer dizer que, amparados pelos orixás, eles descem aos terreiros para ajudar nos trabalhos e conversar com aqueles que estão necessitados de seus conselhos.

Ao contrário do que se imagina e do que o próprio nome sugere, os Malandros não estão relacionados à ilegalidade, a bagunça ou à ilicitude. Pelo contrário, esses guias têm um papel fundamental na ordem e no direcionamento da fé, seja a fé em si ou a fé de que as coisas vão melhorar mesmo nos momentos mais complicados.

Imagem de Zé Pilintra

Por terem passado por situações muito difíceis na vida, tendo em vista que carregam nos ombros o estigma dos excluídos, os Malandros aprenderam a dar a volta por cima com um sorriso estampado no rosto. Eles não permitem que as dificuldades abalem a esperança de dias melhores e, por isso, são entidades bastante inspriadoras.

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Entre os principais Malandros com nomes masculinos, estão Zé Pilintra, Zé da Luz, Zé Malandro, Camisa Preta, Zé do Coco, Sete Navalhas, Zé de Légua, Zé Moreno, Zé Pereira, Zé Pretinho, Malandrinho e Camisa Listrada. Já nos nomes femininos, encontramos Maria Navalha e Maria do Cais.

Características dos Malandros

A maior característica dos Malandros é o seu jeito divertido de ser. Eles utilizam toda a sua malemolência para espantar para longe o mau-humor e mostrar que as adversidades da vida podem ser encaradas com leveza. Além disso, ensinam à sociedade que o preconceito não tem valor nenhum.

Os Malandros podem atuar na vibração de força de Ogum ou Exú na esquerda, como é o caso de Zé Pilintra. Eles se vestem de forma elegante, todo de branco, inclusive o chapéu. Apenas Zé Pretinho se veste todo de preto e Camisa Listrada prefere roupas com listras. Já quando atuam na regência de Oxalá, estão mais ligados à cura e, nestes casos, aparecem sem chapéu e com uma fitinha branca.

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No caso das figuras femininas, como Maria Navalha, o samba também está presente, além do gosto pela bebida e pelo cigarro. No entanto, desfilam feminilidade e vaidade e gostam de presentes bonitos, como flores vermelhas.

Durante os atendimentos, os Malandros limpam a energia negativa do ambiente com o seu gingado e estão quase sempre com um sorriso no rosto. Possuem arquétipos diferentes em cada região do país, mas em todas compartilham o amor pela boemia, pela dança e pela noite.

Origem e história de Malandros

Os primeiros relatos dos Malandos na Umbanda remontam ao início do século XX, onde houve o sincretismo entre as crenças africanas, indígenas e europeias no Brasil.

Essa linha de entidades buscou abranger todos os espíritos excluídos, que sofreram preconceito dentro da sociedade, mas conseguiram superar os desafios através da malandragem.

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Isso não quer dizer que eles representem aqueles que enganavam os outros, mas buscavam maneiras não tão corretas de conseguir sobreviver.

Em vida, foram pessoas que encararam as adversidades com um sorriso no rosto, como uma forma de ter esperança de que tudo iria ficar bem mesmo em meio à tristeza.

Ao desencarnar, passaram a enxergar a vida de outra forma, com muita fé e devoção no reino divino. Hoje, os Malandros são almas responsáveis por oferecer proteção e orientação a quem as procura.

O Zé Pilintra, por exemplo, surgiu no Catimbó, uma crença de origem nordestina. Lá, ele é visto como doutor, mestre e uma figura de respeito. Podendo vir à esquerda ou à direita, não vem jamais para fazer o mal. Usa bengala, fuma cachimbo e bebe muita cachaça. Adora dançar e se envolver com mulheres, além de ser muito receptivo com todos ao seu redor.

No contexto da Umbanda, entram outras características. José dos Anjos, nascido no interior de Pernambuco, era um homem forte, muito bom nos jogos, gostava de beber, era mulherengo e se envolvia constantemente em brigas.

Além disso, sabia manusear muito bem uma navalha. Apesar do estereótipo, Zé Pilintra não era maldoso: tratava a todos com muita gentileza, principalmente as mulheres, e não enganava ninguém durante os jogos.

Exemplos conhecidos de Malandros

Na Umbanda, os Malandros se manifestam com nomes e histórias singulares, cada um trazendo sua malícia sagrada, sabedoria popular e atuação específica no campo espiritual. Saiba quais são os mais conhecidos:

Zé Pelintra

O mais famoso entre os Malandros, Zé Pelintra é símbolo de justiça, esperteza e elegância. Atua com firmeza nas causas difíceis e na defesa dos mais humildes, sendo respeitado tanto na linha da esquerda quanto na direita.

Zé Malandro

Com seu jeito descontraído e olhar atento, Zé Malandro é mestre em abrir caminhos e resolver situações complicadas. Ele trabalha com leveza, mas sempre com sabedoria e respeito às leis espirituais.

Zé do Morro

Zé do Morro carrega a vivência das comunidades e lida com questões sociais, exclusão e proteção daqueles que lutam pela sobrevivência. Sua energia é acolhedora e combativa, sempre em favor da justiça.

Zé do Mangue

Ligado às margens e zonas esquecidas da cidade, Zé do Mangue trabalha com quem está à margem da sociedade, acolhendo com empatia, coragem e disposição para transformar dor em aprendizado.

Filhas e filhos dos Malandros na Umbanda

Os filhos e filhas dos Malandros costumam ter uma ligação forte com a liberdade, a justiça e o bom humor. São pessoas que, mesmo diante das adversidades, mantêm o otimismo e a leveza como formas de resistência.

Esses médiuns e consulentes encontram nos Malandros conselhos sinceros, proteção e uma forma muito própria de enxergar a vida espiritual com alegria, mas sem perder a seriedade dos ensinamentos. A malandragem aqui não é desvio, mas sabedoria de quem já viu muito e sabe por onde andar.

Os Malandros cuidam de seus filhos com afeto e inteligência, muitas vezes usando metáforas e brincadeiras para ensinar verdades profundas. Suas orientações são diretas e, por vezes, provocativas, mas sempre voltadas ao crescimento espiritual e à superação das dificuldades.

Ser filho de um Malandro exige respeito, confiança e compromisso com a caminhada espiritual. É comum que esses filhos ofereçam itens como chapéu, lenço, cigarro, bebida (como cachaça ou cerveja), flores e velas coloridas, conforme as preferências da entidade com quem se relacionam.

Cultivar essa conexão exige devoção, sinceridade e presença. Por isso, práticas como orações, pontos cantados, firmezas e pequenos rituais são maneiras importantes de manter o elo com esses guias tão encantadores quanto sábios.

Vale lembrar que, para descobrir qual Malandro acompanha você espiritualmente, é essencial frequentar um terreiro ou casa de Umbanda. Lá, por meio das giras e orientações do dirigente, será possível identificar sua linha espiritual com segurança e respeito.

Dia dos Malandros

Não existe uma data específica em que se comemore todos os Malandros da Umbanda. No entanto, desde 2022, a Câmara Municipal do Rio de Janeiro instituiu na capital do Estado o Dia do Zé Pilintra. A data escolhida foi 7 de julho.

A criação da celebração foi obra do veredor Átila Nunes, então pelo PSD, e Tarcísio Motta, então pelo PSOL. O projeto de lei afirma que a intenção do Dia do Zé Pilintra é proporcionar, “para os festejos tradicionais, a unificação entre lideranças religiosas e instituições que sofrem com intolerância religiosa, racismo e xenofobia".

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No dia 7 de julho, aqueles que festejam o Zé Pilintra podem celebrar a data dentro de terreiros, bares, santuários, giras, rodas de samba e diversos outros tipos de festa que o Malandro gosta.

Pontos cantados dos Malandros

Os pontos da Umbanda são canções sagradas que, além de homenagear uma entidade da Umbanda em específico, ainda servem como forma de chamá-la para a celebração no centro. Por meio da música, essas entidades manifestam sua presença e transmitem mensagens de sabedoria, leveza e justiça. Alguns dos principais pontos da Umbanda para os Malandros incluem:

Zé Pelintra

Esse ponto celebra a elegância e a força espiritual de Zé Pelintra, exaltando sua presença nas encruzilhadas da vida e sua luta em favor dos humildes:

Zé do Morro

Canta a sabedoria do povo simples e o cuidado espiritual com aqueles que vivem à margem, nas lutas do dia a dia:

Orações dedicadas aos Malandros

Muitos fiéis recorrem às orações para os Malandros buscando proteção, leveza nos caminhos, sabedoria nas decisões e justiça diante das dificuldades da vida. Veja abaixo duas orações dedicadas a essas entidades:

Oração a Zé Pelintra – para proteção e abertura de caminhos

"Salve seu Zé Pelintra, mestre da malandragem, doutor da vida, senhor das encruzilhadas! Peço tua presença neste momento de aflição, para que com teu chapéu tu cubras minha cabeça, com teu lenço vermelho afastes meus inimigos, e com teu sorriso sincero abras meus caminhos. Zé Pelintra, que conhece os becos, os bares e os corações humanos, ensina-me a viver com sabedoria, a vencer sem ferir, a amar sem me perder. Afasta a falsidade, a inveja e a injustiça do meu caminho. Me dá tua astúcia para lidar com os problemas e tua bondade para estender a mão a quem precisa. Protege minha casa, minha alma e meu coração. Laroyê, Zé Pelintra! Salve sua luz, salve sua fé, salve sua malandragem do bem!"

Oração a Zé do Morro – para justiça e coragem nas dificuldades

"Salve Zé do Morro, malandro de fé, filho da rua e da esperança! Peço tua presença firme nos momentos em que o medo e a injustiça tentam tomar conta do meu caminho. Com teu olhar atento e teu coração valente, protege aqueles que lutam por dignidade. Ensina-me a ser forte sem perder a ternura, a enfrentar o mundo sem deixar de sonhar. Zé do Morro, que conhece as dores do povo, guia meus passos com coragem, me livra das ciladas, e me mostra o valor da palavra, da honra e da lealdade. Aceita essa prece como prova da minha fé e gratidão. Laroyê, Zé do Morro! Que tua ginga me inspire, tua coragem me fortaleça e tua proteção me acompanhe!"

Rituais e oferendas aos Malandros

Oferendas à Zé Pilintra

Quando se trata de oferendas e rituais da Umbanda, podemos estar falando de trabalhos mais sérios. Por isso, se esse for o caso, a recomendação primordial é procurar um centro em que você se sinta confortável para pedir a orientação dos trabalhadores da casa.

No entanto, de forma geral, os Malandros preferem receber oferendas em encruzilhadas, morros de favelas e pés de coqueiro. Os itens que eles mais gostam de ganhar são: rapadura, carne seca com abóbora, cocada, doce de abóbora, farofa de milho, frutas frescas da estação, fumo de rolo e cerveja branca gelada.

Os rituais, por sua vez, devem ser feitos dentro dos terreiros, onde a energia dos espíritos se concentra. A gira, por exemplo, é uma das cerimônias mais importantes que conta com a presença dos Malandros. Lá, esses guias trabalham de maneira séria e comprometida, sempre orientando da melhor forma aqueles que os procuram. É importante destacar que eles não fazem amarração, não praticam magias negativas e nem estimulam o uso de drogas (lícitas ou ilícitas).

Simpatia para os Malandros com objetivo de força, proteção e clareza espiritual

Você vai precisar de uma vela vermelha, uma rosa branca (ou vermelha), um copo com cachaça ou água, um charuto (ou cigarro, caso não tenha), uma moeda dourada (ou moeda comum) e uma fruta doce (como banana ou maçã).

Em um local tranquilo e seguro, monte um pequeno altar sobre uma bandeja ou toalha branca. Acenda a vela vermelha e ofereça aos Malandros da Umbanda, em especial à malandragem de Zé Pelintra e seus companheiros. Coloque a rosa ao lado da vela, posicione a moeda e o charuto próximos ao copo com cachaça ou água. Em seguida, concentre-se e faça esta oração:

"Salve os Malandros de luz! Salve Zé Pelintra e toda a malandragem do bem! Peço que me acompanhem nos caminhos da vida, abrindo portas e afastando perigos. Dai-me clareza para tomar boas decisões e sabedoria para não me perder nas encruzilhadas do mundo. Com seu chapéu branco e seu olhar atento, vigia minha mente e minha alma, Zé! Traga sua malícia sagrada para me proteger dos falsos amigos, das ilusões e das armadilhas escondidas. Que eu tenha a leveza de um sorriso e a firmeza de um passo certo. Receba esta oferenda como prova do meu respeito, da minha fé e do meu carinho. Que nunca me falte coragem, dignidade e discernimento. Laroyê, salve os Malandros, salve a malandragem da luz!"

Saudação aos Malandros na Umbanda

Na Umbanda, saudar os Malandros é um gesto de respeito, fé e conexão com essas entidades espirituais que atuam com sabedoria, leveza e malícia do bem.

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As saudações mais comuns incluem expressões como: "Salve Zé Pelintra!", "Salve os Malandros da Umbanda!" ou "Laroyê, Malandro!", muitas vezes acompanhadas de um gesto com o chapéu ou um leve toque no peito, simbolizando carinho e reverência.

Essas saudações reconhecem a proteção, a astúcia e a alegria que os Malandros trazem aos caminhos dos fiéis, sendo uma forma de honrar sua presença nos terreiros e na vida cotidiana de quem os cultua com fé.

Curiosidades sobre Malandros

Presentes nas giras de Umbanda com sua malandragem do bem, os Malandros são entidades que encantam pela leveza, sabedoria de rua e postura irreverente. Apesar da aparência descontraída, carregam profunda espiritualidade e atuam com seriedade no auxílio aos fiéis.

Origem Urbana e Popular

Diferente de muitas entidades ligadas à natureza, os Malandros representam o espírito das cidades e periferias. Surgem inspirados em figuras populares como boêmios, trabalhadores humildes e personagens marginalizados que sobreviveram com astúcia e dignidade.

Estilo Carismático

Os Malandros são facilmente reconhecidos por seu jeito elegante: chapéu de aba, terno branco, lenço vermelho e, muitas vezes, um copo de bebida ou um cigarro de palha. Essa estética representa a vivência nas ruas e a sabedoria adquirida com as experiências da vida.

Defesa dos Oprimidos

Apesar do jeito leve e divertido, os Malandros têm papel firme na proteção contra injustiças. São conhecidos por acolher pessoas marginalizadas, orientar caminhos difíceis e abrir portas fechadas com sua energia de superação.

Ligação com a Alegria e a Esperança

Durante as giras, os Malandros trazem consigo uma vibração contagiante. Cantam, dançam e ensinam que é possível enfrentar dificuldades sem perder o sorriso. Sua presença inspira coragem e fé nos momentos mais desafiadores.

Sabedoria Ancestral nas Ruas

Mesmo sendo figuras urbanas, muitos Malandros carregam conhecimentos espirituais profundos, ensinando que a espiritualidade não está apenas nos templos, mas também nos becos, bares e calçadas, onde a vida acontece de forma intensa e verdadeira.

Esses aspectos mostram como os Malandros ocupam um lugar especial na Umbanda, sendo ponte entre espiritualidade e realidade social, sempre com respeito, inteligência e bom humor.

Os Malandros na Umbanda representam a sabedoria que nasce da vivência, da resistência e da esperança. Com sua postura carismática e seu profundo senso de justiça, essas entidades acolhem, orientam e protegem aqueles que enfrentam lutas diárias.

Sua presença nas giras é um lembrete de que é possível caminhar com leveza, mesmo diante das dificuldades, mantendo a fé, o bom humor e a dignidade.

Ao conhecermos e respeitarmos os Malandros, também aprendemos a valorizar as lições que vêm das ruas, dos desafios superados e da espiritualidade vivida com autenticidade. Salve os Malandros!

 

Guias na umbanda: