Pontos riscados nas religiões afro-brasileiras: símbolos de conexão espiritual

Por Equipe Horóscopo Virtual Publicado:

Misteriosos, enigmáticos e profundamente simbólicos, os pontos riscados são representações gráficas utilizadas em rituais afro-brasileiros para se comunicar com o plano espiritual.

Mais do que simples desenhos, esses traços funcionam como assinaturas das entidades, portais de energia e instrumentos de proteção e ativação mágica.

Embora sejam mais conhecidos na Umbanda, os pontos riscados também aparecem na Quimbanda, no Candomblé de vertente cruzada, na Jurema Sagrada e em outras tradições populares.

Cada ponto é único. Ele carrega significados relacionados à entidade que o traça, ao campo espiritual envolvido e à força que se deseja manifestar.

Neste artigo, você vai entender a origem, as funções e os diferentes contextos em que esses símbolos são usados. Também vamos apresentar exemplos descritivos, livros de referência, curiosidades e um glossário para facilitar sua compreensão.

O que são os pontos riscados?

Os pontos riscados são desenhos simbólicos feitos com pemba (giz ritual) ou, em certos casos, com carvão, pólvora ou sangue vegetal. Cada traço representa a energia de uma entidade, o tipo de trabalho espiritual realizado e os campos de força que estão sendo ativados.

Imagem de um livro com diversos tipos de pontos riscados. Ele está aberto e sobre ele, uma pena. Ao fundo, várias velas brancas acesas.

Esses símbolos podem variar bastante em complexidade. Alguns são simples, enquanto outros combinam cruzes, linhas, estrelas, círculos, flechas e muitos outros elementos mágicos. Cada forma tem uma função específica dentro do ritual.

Origem e simbolismo dos pontos riscados

A origem dos pontos riscados é plural e sincrética. Isso significa que eles nasceram da união de diferentes tradições culturais e espirituais:

  • Africana: com influências dos signos de Ifá e dos traçados do Candomblé;
  • Indígena: por meio de grafismos usados para proteção e invocação;
  • Europeia: especialmente nos sigilos mágicos da magia cerimonial e ocultista;
  • Cristã popular: com cruzes, símbolos angelicais e elementos cabalísticos.

Além de representar, o ponto riscado também ativa forças espirituais. Por isso, ele é considerado um símbolo mágico-operativo. Ao mesmo tempo, ele serve como assinatura energética da entidade, sendo utilizado em trabalhos, oferendas e manifestações espirituais.

Pontos riscados na Umbanda

Os pontos riscados na Umbanda exercem funções essenciais:

  • Confirmar a identidade da entidade incorporada;
  • Ativar campos vibracionais no ritual;
  • Firmar proteções espirituais;
  • Fechar trabalhos ou abrir caminhos;
  • Realizar descarregos, curas e defesas energéticas.

Cada linha espiritual tem seus traços característicos. Por exemplo:

Caboclos: riscam flechas, folhas, círculos e linhas retas, invocando a força da mata e da ancestralidade indígena.

Pretos-Velhos: usam cruzes, bengalas, cachimbos e espirais, que simbolizam sabedoria e caminhos de cura.

Erês: traçam laços, estrelas e formas lúdicas, com uma energia leve e infantil.

Exus e Pombagiras: marcam tridentes, setas cruzadas, círculos e traços que evocam movimento, transformação e abertura de caminhos.

Pontos riscados na Quimbanda

Na Quimbanda, os pontos riscados têm uma força mágica mais intensa. Eles são usados para:

  • Abrir portais entre planos espirituais;
  • Ativar assentamentos e oferendas;
  • Delimitar espaços sagrados;
  • Executar feitiços de proteção, justiça ou transformação.

Geralmente, os símbolos são mais agressivos e impactantes, com tridentes, serpentes, setas cruzadas e círculos duplos. Esses elementos se relacionam a entidades como Exu Caveira, Tranca-Ruas, Pomba-Gira Rainha, entre outras.

Pontos riscados no Candomblé

No Candomblé tradicional, os pontos riscados não fazem parte da liturgia formal. No entanto, em algumas casas de nação Angola, ou com forte influência da Umbanda, é comum o uso desses símbolos para firmar entidades que transitam entre os dois sistemas, como Exus ou Caboclos de Umbanda.

Pontos riscados na Jurema Sagrada e em outras tradições populares

Na Jurema Sagrada, tradição de origem indígena-nordestina, os pontos riscados são chamados de firmas ou pontos de jurema. Eles são desenhados com pólvora ou pemba e usados para:

  • Evocar mestres juremeiros;
  • Firmar encantados e caboclos;
  • Traçar caminhos durante rituais como o toré ou o catimbó.

Além disso, tradições populares como o Catimbó ou práticas esotéricas brasileiras também utilizam grafismos semelhantes. Nesse caso, os símbolos selam magias ou consagram espaços sagrados.

Exemplos de pontos riscados (descritos)

Os pontos são ensinados oralmente e traçados com base na intuição, mas alguns exemplos podem ilustrar sua estrutura simbólica:

Caboclo Sete Flechas

Imagem de fundo cinza e em destaque a imagem do ponto riscado do Caboclo Sete Flechas

Sete setas diagonais apontando para o alto, com círculos na base e uma linha unindo as pontas.

Preto-Velho Pai João

Imagem de fundo cinza e em destaque a imagem do ponto riscado do Preto-Velho Pai João

Cruz central, com um cachimbo deitado na horizontal e uma espiral que sai da base da cruz.

Exu Tranca-Ruas

Imagem de fundo cinza e em destaque a imagem do ponto riscado do Exu

Tridente central, cruzado por duas setas opostas, com círculos nas pontas e pontos em volta.

Esses exemplos são simbólicos. A reprodução exata varia de casa para casa e, por respeito, deve ser preservada entre os iniciados.

Curiosidades sobre os pontos riscados

  • Cada ponto é único e pessoal. Mesmo que duas entidades tenham o mesmo nome em terreiros diferentes, seus pontos podem ser distintos. Isso reflete a individualidade daquela manifestação espiritual.
  • O sentido do traçado importa. Muitos pontos devem ser riscados em uma ordem específica do centro para fora, ou de cima para baixo para que a energia flua corretamente.
  • Alguns pontos são revelados em sonho. Médiums relatam receber símbolos espirituais durante sonhos ou estados alterados de consciência.
  • Nem todo ponto pode ser divulgado. Existem símbolos considerados sagrados e secretos, restritos a rituais internos e a membros iniciados.
  • Som e traço se complementam. É comum riscar um ponto enquanto se canta um ponto cantado correspondente, fortalecendo a vibração espiritual invocada.
  • Há técnica por trás da intuição. Muitos pontos seguem lógicas de geometria simbólica, numerologia e magia tradicional, mesmo quando desenhados de forma intuitiva.

Sugestões de livros sobre pontos riscados

Se você deseja se aprofundar no tema, vale buscar autores sérios e obras respeitadas, como:

PONTOS RISCADOS & FIRMAS DE PODER: Patimpembas, Firmas, Pontos Riscados na Tradição Afro-Americana do Palo Mayombe - Tilo Plöger de Àjàgùnnà

Neste livro, você encontrará uma introdução clara à cosmologia do Dikenga, métodos para criar e interpretar assinaturas espirituais, o significado de símbolos sagrados, mais de 30 exemplos rituais comentados, comparativos entre Veves, Patimpembas e Pontos Riscados, e um guia raro para a divinação com Chamalongo ligado aos Odù de Ifá.

Doutrina e Teologia de Umbanda Sagrada - Rubens Saraceni

Este livro é considerado um guia essencial para quem deseja compreender e viver a Umbanda Sagrada em sua essência. Com linguagem clara e fundamentos sólidos, este livro apresenta a história, os princípios, a teologia e as práticas que formam a identidade da religião. Descubra as diferenças entre Umbanda, Candomblé e Kardecismo, aprenda sobre mediunidade, pontos de força, oferendas, sete linhas, mistérios e o sacerdócio. Uma obra que une conhecimento, respeito e amor pela Umbanda — chave para fortalecer sua prática e consciência espiritual.

Umbanda; A Tradição que Mora no Corpo e Fala com a Alma - Liene Brandão

Mais que um livro, "Umbanda: A Tradição que Mora no Corpo e Fala com a Alma" é um ponto riscado em palavras. Liene Brandão revela a força, os mistérios e a essência da Umbanda para quem sente antes de entender e já ouviu o chamado espiritual.

Glossário

Pemba: giz ritual com o qual se traçam os pontos riscados.

Tridente: símbolo comum dos Exus, associado a poder e justiça.

Assentamento: base física onde se ancora a energia de uma entidade.

Linha de trabalho: grupo espiritual com características em comum (Exus, Caboclos etc.).

Catimbó: tradição espiritual brasileira com raízes indígenas e ibéricas.

Sigilo: símbolo mágico usado para representar intenções espirituais.

Toré: ritual indígena com canto, dança e ervas, presente na Jurema.

Firma: nome dado aos pontos riscados na Jurema Sagrada.

Os pontos riscados são mais do que símbolos. Eles são expressões vivas da espiritualidade, da ancestralidade e do saber sagrado.

Funcionam como pontes entre o mundo material e o mundo espiritual, canalizando energias, intenções e sabedorias profundas.

Respeitar e compreender esses traços é também reconhecer o valor das religiões afro-brasileiras e sua riqueza simbólica.

Se esse universo te chama, busque aprender com quem vive esses saberes. Frequente terreiros sérios, estude com autores confiáveis e permita-se vivenciar com reverência aquilo que os olhos não veem, mas a alma reconhece.
 

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