Quimbanda: origens, práticas e sua relação com a espiritualidade afro-brasileira

Por Equipe Horóscopo Virtual Publicado: Atualizado:

​A Quimbanda é uma das expressões mais intensas e controversas das religiões afro-brasileiras. Envolta em mistérios e preconceitos, essa tradição espiritual se destaca por sua conexão direta com as forças da natureza, da ancestralidade e da justiça espiritual.

Mas afinal, o que é Quimbanda, como ela se diferencia da Umbanda e quais são suas principais entidades?

Prepare-se para conhecer mais profundamente essa linha espiritual que rompe tabus e atua com firmeza na transformação da realidade.

Quimbanda: o que é essa tradição afro-brasileira

A Quimbanda é uma tradição religiosa de matriz africana que cultua diretamente entidades como Exu e Pombagira. Ela se desenvolveu no Brasil a partir do encontro entre culturas africanas, indígenas e europeias, e foi consolidada principalmente nos centros urbanos.

Diferente de outras religiões afro-brasileiras, como o Candomblé ou a Umbanda, a Quimbanda não cultua orixás. Seu foco está na atuação das entidades espirituais que transitam entre o mundo material e espiritual, trazendo justiça, abertura de caminhos e equilíbrio das forças.

Trata-se de uma religião que trabalha com os mistérios da vida e da morte, com os desejos humanos e com a força da ancestralidade.

Origens e história da Quimbanda no Brasil

A história da Quimbanda tem raízes nos cultos africanos a Exu, especialmente entre os povos bantos. Com o passar dos séculos e a diáspora africana, essas tradições foram reinterpretadas no Brasil, onde se fundiram com práticas indígenas, elementos do catolicismo e do espiritismo.

Inicialmente, a Quimbanda era vista como parte da Umbanda, especialmente como uma linha de atuação mais firme e direta. Com o tempo, passou a ser compreendida como uma tradição independente, com estrutura própria, rituais específicos e filosofia distinta.

Entidades na Quimbanda: Exus e Pombagiras

As principais entidades da Quimbanda são Exus e Pombagiras, espíritos poderosos que atuam nos cruzamentos das energias humanas e espirituais. Ao contrário do que muitos pensam, Exu não é o diabo, e a Quimbanda não cultua nenhuma figura demoníaca.

Exu na Quimbanda

Exu é o mensageiro, o guardião dos caminhos e o senhor das encruzilhadas. Ele representa a inteligência estratégica, a justiça implacável e a movimentação das energias. Na Quimbanda, é tratado com respeito e reverência, sendo considerado um aliado poderoso na resolução de conflitos e na conquista de objetivos.

Imagem da Pombagira em um ritual na Quimbanda

Pombagira na Quimbanda

Pombagira é uma entidade feminina que atua com sensualidade, coragem e sabedoria. Ela protege as mulheres, trabalha o amor-próprio, a autoestima e o poder de decisão. Também é ligada à liberdade sexual e ao empoderamento feminino. Seus pontos de força incluem bares, praças e encruzilhadas.

Ambos, Exus e Pombagiras, são espíritos que viveram na Terra e evoluíram espiritualmente, passando a atuar como guias nos processos humanos mais profundos.

Filosofia e fundamentos da Quimbanda

A Quimbanda é uma tradição espiritual que se baseia na verdade, na liberdade e no merecimento. Sua filosofia é direta e sem dogmas rígidos, convidando os praticantes a lidarem com as próprias escolhas de forma consciente e responsável. Ao contrário de outras religiões que se estruturam sobre julgamentos morais ou códigos de conduta fixos, a Quimbanda entende que cada ação gera uma reação - e é nesse fluxo natural que se dá o aprendizado e a evolução.

Seus fundamentos estão na relação com as forças da natureza e com as entidades que operam no campo da realidade material: os Exus e as Pombagiras. Essas entidades atuam como guardiões e mensageiros, auxiliando na transformação de caminhos, na quebra de bloqueios e no enfrentamento das sombras interiores. Não há na Quimbanda o culto aos orixás como na Umbanda; sua força está centrada nos mistérios da esquerda e nas energias de justiça, poder e ação.

Outro pilar da Quimbanda é o respeito ao merecimento. Os rituais, oferendas e firmezas são realizados com intenção clara, e a resposta espiritual depende da verdade de quem pede e da necessidade real daquele pedido. Por isso, a Quimbanda não trabalha “contra” ninguém, mas “por” alguém, buscando equilíbrio e resultados para quem age com consciência.

A filosofia da Quimbanda valoriza o autoconhecimento, a coragem de olhar para as próprias sombras e a sabedoria de agir com firmeza no mundo, sem abrir mão da ética espiritual. É uma prática que exige comprometimento e verdade - com as entidades, com os guias e, principalmente, consigo mesmo.

Rituais e práticas da Quimbanda

Os rituais de Quimbanda são voltados para a transformação da realidade, resolução de conflitos e quebra de demandas espirituais.

Imagem de fundo preto e em destaque uma vela vermelha usada para oferenda em ritual da Quimbanda.

Entre os elementos comuns estão:

  • Velas pretas e vermelhas
  • Cachaça, charutos e pimentas
  • Padês, farofas e outros alimentos simbólicos
  • Pontos riscados e cantados
  • Firmas e assentamentos de Exu e Pombagira

Esses rituais devem ser conduzidos por sacerdotes ou sacerdotisas preparados, pois envolvem manipulação de forças sutis e potentes.

A ética espiritual na Quimbanda é baseada no princípio da verdade e da responsabilidade sobre as ações.

Diferenças entre Quimbanda e Umbanda

Embora compartilhem raízes africanas e elementos culturais em comum, como a presença de Exus e Pombagiras, a Quimbanda e a Umbanda seguem caminhos distintos dentro das religiões afro-brasileiras.

Entidades cultuadas

Na Umbanda, há o culto aos orixás, guias espirituais e entidades protetoras. Já na Quimbanda, o foco está inteiramente em Exus e Pombagiras, que atuam como forças de transformação e justiça.

Veja outras diferenças entre Umbanda, Quimbanda e Candomblé

Linhas de atuação

A Umbanda tem como base a caridade, a cura e a orientação espiritual. A Quimbanda, por sua vez, trabalha com a resolução de conflitos, a quebra de bloqueios e a abertura de caminhos, sempre de forma direta e consciente.

Rituais e práticas

Os rituais na Umbanda envolvem passes energéticos, defumações, banhos e orações. Na Quimbanda, predominam as firmas, oferendas e assentamentos, sempre voltados ao equilíbrio e à ação no plano material.

Filosofia e visão espiritual

A Umbanda se estrutura sobre uma filosofia sincrética, que valoriza a fé, o amor e o crescimento moral. A Quimbanda atua a partir da verdade, do merecimento e da consciência das consequências, sem julgamentos morais, mas com responsabilidade espiritual.

Pontos da Quimbanda: cantos de força e conexão com os Exus

Na Quimbanda, os pontos cantados são muito mais do que músicas, são ferramentas sagradas de evocação, reverência e conexão com os Exus e Pombagiras. Cada ponto carrega uma vibração específica, que ativa a presença das entidades, fortalece a corrente espiritual e direciona os trabalhos realizados no terreiro.

🎵 Você pode ouvir esse e outros pontos no YouTube ou em canais especializados em Quimbanda.

Os pontos podem ser entoados em firmezas, oferendas, assentamentos e giras, marcando a identidade e os caminhos de cada entidade. Com ritmo intenso, letras diretas e cheias de simbologia, eles evocam a força da rua, do fogo, do ferro e da justiça.

Além de fortalecer o axé, os pontos também ajudam a elevar o campo vibracional dos médiuns e participantes, abrindo os caminhos para que as entidades se manifestem com mais clareza e poder.

Quimbanda é do bem ou do mal?

Essa é uma das perguntas mais comuns e, ao mesmo tempo, mais carregadas de preconceito. A Quimbanda não é uma prática "do mal". O que existe é uma atuação firme sobre a realidade, com intervenção direta nas questões humanas.

Muitas vezes, o senso comum associa tudo que foge do padrão religioso tradicional ao mal. Porém, a Quimbanda trabalha com a justiça espiritual, devolvendo energias ao seu ponto de origem e equilibrando forças desajustadas.

Como qualquer tradição espiritual, o que determina sua ética é a intenção de quem a pratica. Há caminhos de luz e sombra em todas as religiões - e com a Quimbanda não é diferente.

Quimbanda hoje: preservação e resistência cultural

A Quimbanda, por muito tempo marginalizada e incompreendida, vive hoje um movimento de afirmação e resistência cultural. Mais do que uma prática espiritual, ela é também uma expressão viva das raízes afro-brasileiras, que resistem ao preconceito, à intolerância religiosa e à tentativa de apagamento de saberes ancestrais.

Em muitos terreiros, a Quimbanda tem sido resgatada em sua essência, com respeito às tradições, aos ritos antigos e à força dos Exus e Pombagiras. Mestres e sacerdotes comprometidos vêm reeducando a visão do público sobre a religião, desfazendo estigmas e mostrando que a Quimbanda não é um culto ao mal, mas sim uma prática de equilíbrio, justiça e empoderamento espiritual.

Além disso, a Quimbanda também ocupa espaços de debate e militância, aliando espiritualidade com identidade cultural, racial e social. Muitos filhos e filhas de santo enxergam na Quimbanda uma forma de resgatar suas origens, afirmar sua negritude e conectar-se com forças que representam coragem, liberdade e resistência.

A preservação da Quimbanda passa pela oralidade, pelos toques de atabaque, pelas firmezas, pelos pontos cantados e pela manutenção dos ritos. Mas passa também pela coragem de existir publicamente, de afirmar sua fé sem medo, e de continuar transmitindo os fundamentos às novas gerações. Assim, a Quimbanda segue viva: firme nas encruzilhadas, nos corações de seus praticantes e na luta constante contra qualquer forma de apagamento cultural.

A Quimbanda é uma religião de força, ancestralidade e sabedoria. Quando compreendida em sua essência, revela-se como um caminho espiritual legítimo, profundo e transformador. Longe dos estigmas e equívocos populares, ela continua viva e pulsante, sendo praticada com respeito e devoção por seus seguidores.

Se você deseja conhecer mais sobre as religiões afro-brasileiras, aproxime-se com mente aberta e coração sincero. As entidades da Quimbanda podem surpreender com sua força, mas também com seu acolhimento e amor pela justiça.
 

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